Qualidade da Água no Cultivo Hidropônico
De acordo com a Portaria GM/MS nº 888, de 4 de maio de 2021, Capítulo V, que estabelece o padrão de potabilidade da água para consumo humano, a presença de coliformes totais e Escherichia coli em análises microbiológicas exige ações corretivas para evitar contaminações. No entanto, o uso de água contaminada na irrigação de frutas e hortaliças ainda é frequente, colocando em risco a saúde do consumidor e a segurança alimentar.
Em contrapartida, o cultivo hidropônico é amplamente reconhecido por reduzir esse risco, pois utiliza água de alta qualidade microbiológica. Para garantir essa segurança, é essencial realizar análises técnicas em laboratórios acreditados.
Soluções Sanitizantes na Hidroponia
Para reduzir a carga microbiológica na água e na solução nutritiva utilizada em sistemas HPM e NFT, várias alternativas sanitizantes são recomendadas:
- Ozônio
- Peróxido de hidrogênio
- Radiação ultravioleta
Essas técnicas podem ser aplicadas tanto no tratamento da água para a solução nutritiva quanto na manutenção da própria solução, assegurando a qualidade do cultivo.
A Importância da Qualidade Química da Água
Além da qualidade microbiológica, o controle químico da água é essencial para um manejo nutricional eficiente. A composição química da água deve ser conhecida para que sejam feitos ajustes precisos na solução nutritiva, prevenindo possíveis desequilíbrios.
A análise química da água auxilia na escolha da espécie e da variedade a ser cultivada e na definição do tratamento necessário. Por exemplo, pode ser necessário:
- Ajuste do pH com estabilizadores e ácidos apropriados.
- Filtração específica, como o uso de filtros de carvão ativado.
- Osmose reversa, embora ainda pouco utilizada no Brasil devido aos altos custos.
- Uso de quelatos específicos para evitar deficiências nutricionais.
Exemplos de Análises Químicas e Impactos no Manejo Nutricional
1️⃣ Água alcalina:
- pH: 8,5
- EC: 0,5 mS/cm
- Bicarbonato: >180 mg/L
- Cálcio: >110 mg/L
Essa água é considerada dura, mas as altas concentrações de cálcio podem ser incorporadas ao manejo nutricional por meio de ajustes na dosagem de nitrato de cálcio. O principal cuidado é com o pH, pois o uso de ácido fosfórico pode causar a precipitação de fosfato de cálcio (“pó branco” insolúvel). Nesse caso, recomenda-se utilizar ácido fosfórico de alta pureza e, se necessário, fazer o controle do pH com ácido nítrico.
2️⃣ Água com excesso de enxofre:
- pH: 5,0
- EC: 0,6 mS/cm
- Sulfato (SO4): >150 mg/L
Esse tipo de água, comum em regiões litorâneas, pode causar toxidez por enxofre em algumas culturas. A recomendação é utilizar filtros específicos para reduzir a concentração desse elemento e evitar problemas nutricionais.
3️⃣ Água salina:
- pH: 6,0
- EC: 0,7 mS/cm
- Sódio (Na): >90 mg/L
- Cloreto (Cl): >155 mg/L
Altas concentrações de sódio e cloreto podem prejudicar o crescimento radicular e causar tip burn (queima nas bordas das folhas), devido ao desbalanço nutricional entre Ca/Na e K/Na. Nesses casos, duas estratégias podem ser adotadas:
- Osmose reversa (embora ainda de alto custo no Brasil).
- Escolha de variedades tolerantes à salinidade, como a rúcula, que se destaca como uma cultura resistente em condições de alta salinidade.
Conclusão
A análise química da água é o primeiro passo para garantir a segurança e o sucesso na implantação de sistemas hidropônicos, como HPM ou NFT. Além de assegurar a segurança alimentar, essa análise permite um manejo nutricional mais preciso, evitando desequilíbrios e otimizando a produtividade.
O conhecimento dos parâmetros químicos e microbiológicos da água utilizada é essencial para evitar problemas e tomar decisões assertivas quanto ao manejo e à escolha das culturas. Assim, cada etapa do processo hidropônico será mais eficiente e sustentável.
Esperamos que tenham gostado desta edição e continuem nos acompanhando para mais informações sobre práticas sustentáveis na hidroponia.
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